Na lição da semana passada (Lição 01: Medidas, de 25 de janeiro de 1959), vimos como
podem ser tiradas as várias medidas necessárias à execução de um vestido
qualquer. Note-se que tratamos das medidas básicas, podendo ser acrescentadas
aquelas que forem exigidas pelo modelo do vestido.
Na lição de hoje, mostraremos que as
medidas de uma maneira geral, correspondem a uma série de agrupamentos, cada um
dos quais se convencionou chamar de manequim. Acompanhando esta lição,
estampamos um quadro com os diversos manequins e as medidas correspondentes a
cada um. Por meio deste quadro, a leitora poderá comparar as próprias medidas e
verificar a que manequim pertence o seu físico, facilitando assim o corte por
meio de moldes que já vem com o manequim fixo ou então a compra de vestidos
prontos. Naturalmente as medidas, muitas vezes, não concordarão em todos os
pontos, de modo que o manequim correspondente será aquele em que as medidas
coincidirem maior número de vezes, ou que mis se aproximarem no conjunto.
Note-se que as medidas do comprimento da saia são muito variáveis, pois oscilam
ao sabor da moda e que as do comprimento da manga correspondem à manga
comprida.
Assim, vista a questão das medidas,
passemos a um assunto de grande importância: o preparo da fazenda, que é
imprescindível para o bom resultado da costura. Vejamo-lo:
Quando a leitora desconfiar que o tecido
irá encolher após a primeira lavagem, torna-se preciso que se molhe toda a
metragem, dentro de uma banheira que é, sem dúvida, o local mais apropriado,
durante o correr de uma noite, isto é, cerca de 12 horas. Pela manhã, deve-se
estender o tecido ao vento, sem torcê-lo, deixá-lo secar até ficar ligeiramente
úmido e depois então, passá-lo inteiramente a ferro, pelo avesso. Observe-se
bem estes dois pontos de importância: o tecido deve secar ao vento, nunca ao
sol, deve ser passado a ferro ligeiramente úmido, sempre pelo avesso, jamais
pelo direito. As razões deste modo de proceder são ã claras que nos dispensamos
de repeti-las aqui.
Quando se trata de um tecido de lã, o
preparo da fazenda é o que os franceses chamam de décatissage, palavra esta que não tem uma tradução correta, ou
melhor, exata, em português. Em princípio, deve-se décatir todas as fazendas de lã, isto é, submetê-las ao processo de
décatissage. Mesmo que o se
fabricante haja assegurado que o tecido foi previamente encolhido e
deslustrado, é prudente desconfiar sempre.
O processo de décatissage consiste no seguinte: sobre uma mesa ou uma tábua de
engomar, coloque-se o tecido, dobrado em dois, o lado direito para dentro e o
avesso para fora. Prepara-se um recipiente com água bem limpa, um pano branco
bastante largo, isto é, que corresponda, pelo menos, à largura do tecido
dobrado, ou seja, por exemplo, 70 cm de comprimento por 50 cm de largura.
Mergulhe-se este pano na água, torcendo-o em seguida, para que fique bem
molhado, sem estar, contudo, ensopado. Assim feito, estenda-se o pano sobre o
tecido e passe-se o ferro bem quente, sem apoiá-lo com muita força, para não
fazer nenhuma marca sobre a lã, que deve ser, em suma, tratada pelo vapor.
Passe-se o ferro desta maneira até a secagem completa do pano. Verifique-se
então se o tecido já está bem liso, porque, em caso contrário, é preciso
retomar do pano úmido e repassá-lo ligeiramente mais uma vez. Se a lã ficar um
pouco úmida com este tratamento, não tem importância: basta deixá-la secar por
si mesma.
A medida que se for deslocando o pano branco para o décatissage de toda a fazenda, presta-se atenção ao lugar em que terminou o processo anterior, a fim de que o pano molhado seja colocado exatamente no ponto em que o trabalho já foi efetuado. Desta maneira, o vapor entrará no tecido inteiro uniformemente. Proceda-se do mesmo modo até o fim da metragem e recomece-se a mesma operação sobre o lado do tecido de lã. Com isto, a leitora fique certa de poder trabalhar sem inconvenientes. O décatissage, quando é bem feito, impede que o tecido encolha na primeira lavagem, e favorece o corte dos moldes, uma vez que a fazenda está muito bem esticada e lisa.
Constitui-se um desleixo imperdoável por
parte de quem vai cortar um tecido, transportar os moldes para um tecido não
preparado, nem sequer mesmo, passado simplesmente a ferro, cheio de dobras, de
rugas e de pregas. Muitas mulheres assim procedem, mais por comodidade, do que
por desinteresse. Às vezes é a pressa que as leva a cortar uma fazenda no mesmo
estado em que saiu da peça, na loja. Este hábito é péssimo e deve ser corrigido
por duas razões principais: primeiro porque um molde cortado num tecido
enrugado e cheio de pregas ficará, com toda probabilidade, deformado quando o
tecido for passado a ferro, e, segundo, porque as costuras jamais ficarão
corretas, quando feitas numa fazenda amassada, mesmo que, posteriormente, sejam
passadas e repassadas a ferro.
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Ilustração de Gil Brandão |
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