terça-feira, 14 de maio de 2013

Lição 02: Manequins – preparo da fazenda, de 1º de fevereiro de 1959

Na lição da semana passada (Lição 01: Medidas, de 25 de janeiro de 1959), vimos como podem ser tiradas as várias medidas necessárias à execução de um vestido qualquer. Note-se que tratamos das medidas básicas, podendo ser acrescentadas aquelas que forem exigidas pelo modelo do vestido.


Na lição de hoje, mostraremos que as medidas de uma maneira geral, correspondem a uma série de agrupamentos, cada um dos quais se convencionou chamar de manequim. Acompanhando esta lição, estampamos um quadro com os diversos manequins e as medidas correspondentes a cada um. Por meio deste quadro, a leitora poderá comparar as próprias medidas e verificar a que manequim pertence o seu físico, facilitando assim o corte por meio de moldes que já vem com o manequim fixo ou então a compra de vestidos prontos. Naturalmente as medidas, muitas vezes, não concordarão em todos os pontos, de modo que o manequim correspondente será aquele em que as medidas coincidirem maior número de vezes, ou que mis se aproximarem no conjunto. Note-se que as medidas do comprimento da saia são muito variáveis, pois oscilam ao sabor da moda e que as do comprimento da manga correspondem à manga comprida.


Assim, vista a questão das medidas, passemos a um assunto de grande importância: o preparo da fazenda, que é imprescindível para o bom resultado da costura. Vejamo-lo:


Quando a leitora desconfiar que o tecido irá encolher após a primeira lavagem, torna-se preciso que se molhe toda a metragem, dentro de uma banheira que é, sem dúvida, o local mais apropriado, durante o correr de uma noite, isto é, cerca de 12 horas. Pela manhã, deve-se estender o tecido ao vento, sem torcê-lo, deixá-lo secar até ficar ligeiramente úmido e depois então, passá-lo inteiramente a ferro, pelo avesso. Observe-se bem estes dois pontos de importância: o tecido deve secar ao vento, nunca ao sol, deve ser passado a ferro ligeiramente úmido, sempre pelo avesso, jamais pelo direito. As razões deste modo de proceder são ã claras que nos dispensamos de repeti-las aqui.


Quando se trata de um tecido de lã, o preparo da fazenda é o que os franceses chamam de décatissage, palavra esta que não tem uma tradução correta, ou melhor, exata, em português. Em princípio, deve-se décatir todas as fazendas de lã, isto é, submetê-las ao processo de décatissage. Mesmo que o se fabricante haja assegurado que o tecido foi previamente encolhido e deslustrado, é prudente desconfiar sempre.


O processo de décatissage consiste no seguinte: sobre uma mesa ou uma tábua de engomar, coloque-se o tecido, dobrado em dois, o lado direito para dentro e o avesso para fora. Prepara-se um recipiente com água bem limpa, um pano branco bastante largo, isto é, que corresponda, pelo menos, à largura do tecido dobrado, ou seja, por exemplo, 70 cm de comprimento por 50 cm de largura. Mergulhe-se este pano na água, torcendo-o em seguida, para que fique bem molhado, sem estar, contudo, ensopado. Assim feito, estenda-se o pano sobre o tecido e passe-se o ferro bem quente, sem apoiá-lo com muita força, para não fazer nenhuma marca sobre a lã, que deve ser, em suma, tratada pelo vapor. Passe-se o ferro desta maneira até a secagem completa do pano. Verifique-se então se o tecido já está bem liso, porque, em caso contrário, é preciso retomar do pano úmido e repassá-lo ligeiramente mais uma vez. Se a lã ficar um pouco úmida com este tratamento, não tem importância: basta deixá-la secar por si mesma.


A medida que se for deslocando o pano branco para o décatissage de toda a fazenda, presta-se atenção ao lugar em que terminou o processo anterior, a fim de que o pano molhado seja colocado exatamente no ponto em que o trabalho já foi efetuado. Desta maneira, o vapor entrará no tecido inteiro uniformemente. Proceda-se do mesmo modo até o fim da metragem e recomece-se a mesma operação sobre o lado do tecido de lã. Com isto, a leitora fique certa de poder trabalhar sem inconvenientes. O décatissage, quando é bem feito, impede que o tecido encolha na primeira lavagem, e favorece o corte dos moldes, uma vez que a fazenda está muito bem esticada e lisa.


Constitui-se um desleixo imperdoável por parte de quem vai cortar um tecido, transportar os moldes para um tecido não preparado, nem sequer mesmo, passado simplesmente a ferro, cheio de dobras, de rugas e de pregas. Muitas mulheres assim procedem, mais por comodidade, do que por desinteresse. Às vezes é a pressa que as leva a cortar uma fazenda no mesmo estado em que saiu da peça, na loja. Este hábito é péssimo e deve ser corrigido por duas razões principais: primeiro porque um molde cortado num tecido enrugado e cheio de pregas ficará, com toda probabilidade, deformado quando o tecido for passado a ferro, e, segundo, porque as costuras jamais ficarão corretas, quando feitas numa fazenda amassada, mesmo que, posteriormente, sejam passadas e repassadas a ferro.

Ilustração de Gil Brandão

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